Talvez você já tenha ouvido falar das rajadas rápidas de rádio, ou
explosões rápidas de rádio (do termo original em inglês “fast radio
bursts” ou FRB). Nós já detectamos 22 delas, mas ainda não temos a menor
ideia do que são, o que significam, ou de onde vieram.
A
mais recente FRB registrada é a mais confusa já observada: depois de
olhar para ela através da lente de 11 telescópios, os cientistas não
estão nem perto de resolver o mistério.
“Nós passamos muito tempo em um monte de telescópios para encontrar
qualquer coisa associada a ela. Temos novas janelas de comprimento de
onda que nunca conseguimos antes, mas ainda estamos tentando descobrir
de onde veio”, disse a principal autora do estudo, Emily Petroff, do
Instituto Holandês de Radioastronomia, ao portal Gizmodo.
O que sabemos
As rajadas rápidas de rádio são explosões de energia que duram
milésimos de segundo, mas são um bilhão de vezes mais luminosas do que
qualquer coisa já vista em nossa galáxia.
Esses sinais misteriosos no universo já foram associados a tudo, desde micro-ondas a naves espaciais alienígenas.
Com apenas 22 FRBs confirmadas até à data, elas podem parecer raras, mas
os cientistas pensam que são na verdade bastante comuns – cerca de
2.000 devem iluminar o espaço todos os dias.
A razão pela qual temos tanta dificuldade em encontrá-las é porque
duram apenas cerca de 5 milissegundos, e até o início deste ano os
cientistas nem sequer eram capazes de confirmar que vinham do espaço, e
não da Terra.
FRB 150215
O novo estudo descreve uma explosão chamada FRB 150215, detectada em
tempo real pelo radiotelescópio Parkes, na Austrália, em 15 de fevereiro
de 2015.
Ela foi considerada estranha porque, ao contrário de qualquer outra
FRB detectada até à data, Petroff e sua equipe foram incapazes de
identificar qualquer sinal ou vestígio de luz deixada para trás, apesar
de terem a observado através de vários telescópios em todo o mundo.
“A explosão foi acompanhada por 11 telescópios para procurar por
sinais de rádio, ópticos, raios-X, raios gama e emissão de neutrinos.
Nenhuma emissão transitória nem variável foi encontrada que fosse
associada à explosão, e nenhum pulso de repetição foi notado em 17.25
horas de observação”, escreveram os pesquisadores.
Como é que algo que gera tanta energia quanto 500 milhões de sóis não têm nenhum pós-brilho?
Não para por aí
A segunda razão pela qual FRB 150215 é estranha é que não deveria ter
sido detectável a partir da Terra, dada a direção densa no espaço da
qual estava vindo.
Petroff mediu a polarização de FRB 150215, e um aspecto dessa medição
– uma quantidade chamada de “medida rotacional” – mostrou à equipe por
onde o sinal passou.
Em uma área tão densa do espaço, os cientistas estavam esperando
muita interferência magnética e, portanto, uma alta medida rotacional,
mas o oposto ocorreu.
Os pesquisadores tiveram muita sorte, porque a rajada passou por
algum tipo de “buraco” na Via Láctea que também tinha uma medida
rotacional de zero.
Em busca de mais pistas
A chave para desvendar o mistério das FRBs parece ser o tamanho da
amostra. Por enquanto, só vimos 22 delas, e os cientistas vão precisar
de muito mais para descobrir de onde elas vêm.
É preciso notar também que o trabalho recente ainda não foi revisto
por pares, de modo que as interpretações dos dados podem mudar à medida
que mais pesquisadores os analisem. Ou ficar ainda mais estranhas.
Fonte: http://hypescience.com/